Assento
Na Varanda
Sento-me no assento da varanda, sinto
a brisa frio cobrir meu copo. Me cubro com os braços. Acendo-me um cigarro que
a muito tempo me faz companhia. O cigarro que a cada tragada vai diminuindo,
como minha vida é, uma contagem regressiva.
Relembro cada segundo perdido ali naquela
cidadezinha medíocre onde decidir me esconder. Fraca eu. Sempre fui. Aqui estou
eu me entregando aos pontos. Me envelhecendo ainda mais, só vendo o tempo
passar, passar como os ponteiros do relógio a cada tic-tac. O que me sobrou? Apenas um assento na
varanda, onde se ver o pôr do sol, em um laranja avermelhado escondido entre as
nuvens, um lindo azul anil, com pássaros sumindo.
Na vida nada escolhi. Essa de que escolhemos pra onde vamos é bobagem! Acredito que algo nos move e quem me moveu hoje não está mais aqui. Meus olhos castanhos se foram. Assim eu costumava a chama-lo. Me lembro como me acalmava em seus lábios e braços fortes, me afagava, dançava na melodia da sua voz, em passos lentos caminhava em sua direção. Oh meus olhos castanhos porque me deixastes?! Hoje sou uma velha de 80 anos, sem destino nessa vida. Me levastes com você, me levastes!
Mais uma vez estou aqui no meu assento, com um cigarro, esperando as chamas apagarem e me levarem pra junto de ti.